Imagens da infância


Alambique

Que bela estrada aquela em que íamos, eu, meu pai e meu tio, por entre trilhas, como que a fugir da monotonia dos dias ensolarados do recôncavo.

Que destreza eles tinham na direção, que alegria era para mim criança, subir na boleia de um caminhão e percorrer caminhos nunca antes navegados, como a desbravar mundos invisíveis cheios de mocinhos e bandidos. Nós éramos os mocinhos e naquele momento estávamos sendo os bandidos.

Tínhamos um velho alambique e distribuíamos cachaça para a região, tínhamos também problemas com o fisco, por isso tanta aventura. Não sabia direito o que era fisco, a mim me parecia algo muito legal que me proporcionava grandes alegrias. O fisco era para mim o que o parque de diversões era para as crianças da cidade. Adorava saber que os fiscais estavam na estrada, isso significava aventura, passar por matas fazer trilhas nas capoeiras, compartilhar do grande mundo do meu pai e do meu tio.

Que mundo fascinante aquele de correr perigo, de andar por caminhos estreitos no mato, de pegar atalhos, de sair da estrada.

O alambique era para mim enorme, os barris tinham escadas gigantescas, as quais meu pai, meu tio ou alguma outra pessoa subia para verificar algo, não sabia o que, mas entendia a importância daquele ato. Depois eles abriam uma torneira que ficava na parte baixa dos barris e era uma festa. Parecia que algo tinha dado certo e aquilo me deixava muito feliz. Santa Fé era o nome da cachaça, a mais vendida na região. Eu me orgulhava de tudo isso.

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